Amor Próprio - Marcos Bulhões

Eu sempre senti um medo pavoroso de alguém me deixar, e por isso mesmo aceitei goles rasos e vencidos do que me diziam ser afeto, comi na mão de quem nunca segurou firmemente a minha, e me culpei por não ser nada daquilo que exigiam de mim. Sempre temi ser abandonado, e talvez por isso sempre antecipei todas as partidas, sofria duplamente pelo adeus que eu previa e pelo que recebia, por todo esfriamento sofrido primeiro dentro de mim e após isso, experimentado por fora. Levou tempo, e nem me lembro quantas partidas, quantas desculpas, quantas ofertas de “vamos ser amigos agora”. Para eu aceitar ficar sozinho.

E só então, pude experimentar o que é amar a sí mesmo. O que é aproveitar intimamente uma sexta feira debaixo das cobertas com um café, livro ou série. Como é libertador ir ao shopping e poder comprar algo para mim mesmo, ou o quanto é sublime saber que não tenho ninguém para correr atrás ou por quem sofrer. O processo de amor próprio é intenso e põe a prova todos os outros amores que um dia você viveu, e para sua surpresa ou decepção, a maioria deles não foi real.

E talvez, só assim. Provando o amor direto da fonte é que o nosso paladar vai identificar o que de fato é amor, e já no beijo você sentira o sabor da verdade ou da mentira.

Texto: Marcos Bulhões

#mihtododia 5/7 ♡